As eleições autárquicas em
Moçambique que terão lugar em Novembro próximo serão marcantes pelo facto de que a
primeira geração que nasce após o acordo de paz (que culminou com o fim dos 16
anos de guerra civil) irá as urnas.
A guerra civil em Moçambique teve a duração de 16 anos, por isso também conhecida como “A Guerra dos 16 anos”. Tal guerra colocou frente a frente as forças governamentais (dirigidas pela Frelimo) e o movimento rebelde, a Renamo. Este conflito teve o seu início um ano depois da independência do país, em 1976, e teve o seu término em Roma, no dia 4 de Outubro de 1992 quando o antigo presidente da República Joaquim Chissano e o líder de Renamo, Afonso Dhlakama assinaram o acordo de paz que ditou o fim das hostilidades.
Passados 21 anos após a
assinatura do acordo de paz, grande parte daqueles que pela primeira vez irão
votar nas eleições não conhece o que é viver em estado de guerra. Estes
apenas tem conhecimento das experiencias de guerra com base em relatos. O
facto de não terem testemunhado a guerra pode ser determinante na escolha que
irão fazer nas eleições. A razão disso prende-se com o facto das pessoas
alegarem não terem votado a Renamo nas eleições anteriores devido as experiências que carregam
da guerra civil que arruinou o país e dizimou milhares de pessoas. Durante a
guerra civil a Renamo foi financiada pelo Regime do Apartheid da África do Sul
e os seus homens eram conhecidos como os matsangas
(bandidos armados), daí a sua “má reputação”.
A juventude de hoje cresceu num
contexto diferente, isto é, de paz, mas marcado pela pobreza, desemprego,
corrupção, crises nos sectores de transporte e habitação principalmente nos
pincipais centros urbanos. Estes males sociais estiveram na origem das
manifestações populares de 5 de Fevereiro de 2007 e 3 de Setembro de 2011 em
que os manifestantes reclamavam pelo aumento dos preços dos produtos e de
transporte. A greve dos médicos que vem paralisando o sector de saúde há já
algumas semanas acaba entrando na memória desta geração que irá votar pela
primeira vez.
Embora o país esteja a registar
enormes descobertas de riquezas naturais tais como o carvão mineral na
província de Tete e petróleo na província de Cabo Delgado, a situação de vida
continua a deteorar-se e estas descobertas poucos efeitos têm produzido efeitos
na vida das pessoas. O último relatório publicado pela PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) colocou Moçambique no terceiro pior lugar
no Índice de Desenvolvimento Humano. Este relatório vem reforçar tantos outros
estudos que indicam que o país está a recuar, e a qualidade de vida está a
decrescer. Daí a ideia de que a história das eleições poderá ganhar novos
contornos a partir da entrada em cena da geração pós-guerra no campo político
nacional.
Tomás Queface
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